quinta-feira, 10 de abril de 2014

Próxima paragem: fim de semana


Não gosto da rotina dos dias da semana. O ter de acordar cedo, os autocarros, o trânsito, hora de almoço. Talvez por isso nunca tenha uma hora certa para jantar, para lhe tentar fugir. No entanto, adoro as rotinas de fim de semana. As saídas à sexta e ao sábado, sempre para os mesmos sítios, quase sempre com as mesmas pessoas. Não sinto necessidade de ir a bares ou discotecas da moda. De vez em quando vou, mas nunca me divirto tanto como no conforto das noites habituais.
Gosto do jantar de sexta, na marisqueira com as melhores lulas do mundo, do almoço de sábado em casa da avó, do almoço de domingo, ainda em pijama. Gosto de adormecer no sofá e acordar cheia de dores no corpo, porque tive de partilhar o espaço com o gato e o cão.
De vez em quando, também sabe bem fazer algo diferente e, amanhã, lá vamos nós até Braga. À noite temos uma conferência, depois logo se vê. Já conhecemos a cidade, já lá estivemos por mais do que uma vez. Portanto, será mais para descansar do que para visitar. E para namorar. Sobretudo, para namorar.

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Voyeur


Estação de Campanhã. Segunda-feira. 9.37. Era assim que começavam todas as semanas. Saía do comboio, lentamente, entre apertos e empurrões. Uns corriam para o trabalho, outros para uns braços abertos. No sentido contrário, pais transportavam as malas das filhas. Namorados apagavam um último cigarro com um beijo. Emos balançavam em vez de andar, enquanto deprimiam ao som de música. E eu ali, a caminho de casa, com a enorme mala amarela. A vontade de chegar ao destino era pouca. Aquelas paredes brancas, tão brancas, davam-me demasiada margem à imaginação. E deixava-me estar sempre mais um pouco, vagueando contra a corrente, apreciando cada gesto, cada sinal, imaginando de onde vinham, para onde iam, o quão felizes eram. Comprava uma revista e sentava-me no café, a tomar o pequeno almoço. A crise não era tão grande nessa altura, em que não era proibitivo frequentar aquele espaço. E olhava à minha volta, durante mais uma hora. Escutava todas as conversas, disfarçando com o virar da página.
Hoje, depois de alguns meses, voltei a andar de comboio. Pela primeira vez na vida, cheguei à estação com meia hora de antecedênciae e dei-me o prazer de a voltar a desfrutar. Todas as horas que lá passei, não foram certamente por um bom motivo. Ainda assim, descobri que sinto falta daqueles momentos sozinha, em que me transpunha para tudo o que via. É que, na verdade, eu gosto de viver a minha vida vinte e três horas por dia e de reservar uma para ser voyeur.

quinta-feira, 3 de abril de 2014

A segunda chegada à blogosfera


Cheguei à blogosfera no primeiro trimestre de 2008. Tinha acabado de me mudar para um apartamento pequeno, com uma amiga de longa data e aquela casa ainda hoje permanece na minha memória. Fui tão feliz como infeliz mas, por incrível que pareça, os momentos bons sobrepõem-se largamente aos maus. O meu namorado de longa data (parece que tudo na minha vida é de longa data, eu sei), tinha partido nesse ano em busca do seu sonho e eu fiquei por cá, numa cidade nova. Numa segunda-feira triste, lembrei-me de criar um blogue, para escrever tudo aquilo que não conseguia dizer em voz alta. Sempre fui de parcas palavras.
Ao fim de uns anos ele voltou e sumiu-se a vontade de escrever. Dizem que a tristeza nos inspira, o que não deixa de ser verdade. Mas não foi só isso que me levou a deixar para trás o blogue. Todas as lembranças que quero guardar e simultaneamente esquecer, ficaram naquele cantinho. Foi uma viagem demasiado longa e atribulada mas, chegados ao destino, tivemos de desfazer as malas, arrumar os nossos pertences e seguir em frente. E assim, depois de voltar à rotina e passar a ser totalmente feliz todos os dias, em vez de apenas três meses por ano, decidi marcar esta etapa com outra leveza.

A Miúda Lusitana


Os meus pais deram-me um nome pequeno, tal como o deles. E apenas um, tal como os meus avós fizeram com eles. Vinte e cinco anos depois, houve alguém que me renomeou. 
Primeiro e último: Miúda Lusitana. Para vocês, apenas Miúda. Muito prazer.